segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Minha mãe


Minha mãe é a minha melhor amiga, mas me assumir bissexual pra ela, não foi nada fácil. Na verdade não me assumi, minha mãe descobriu. Ela percebeu através de uma troca de olhares entre eu e meu namorado da época. Ele trabalhava no shopping e eu levei ela até lá pra simular um encontro ao acaso e dizer: "olha, mãe! esse é meu amigo, ele é uma pessoa ótima, você precisa conhecer, etc". Mas mãe é mãe, né? Ela sacou no momento em que o meu olhar se cruzou com o dele. Tudo bem que o brilho nos olhos e o sorrisão no rosto facilitou um pouco, mas ainda assim, a percepção dela foi incrível. Depois dessa descoberta, ela, que sempre me deu todo o amor do mundo, sempre me apoiou em todas as minha decisões, parou de falar comigo. Antes de parar de falar comigo, foi cruel e me disse coisas pesadas, como: "eu preferia ter morrido antes de descobrir isso" e coisas do tipo. Doeu muito. Eu me sentia envergonhado, como se o castelo que tinha construído durante a vida, estivesse desmoronando. Eu, que sempre fui sinônimo de orgulho pra minha família, agora já não conseguia olhar nos olhos da minha mãe, porquê sentia que havia decepcionado-a da pior maneira possível. Porem, eu não estava mais disposto a voltar pro armário. Saí de casa, fui morar com amigos, fiquei doente, passei bastante dificuldade, chorava todos os dias no banheiro do trabalho, ou, às vezes, na frente do computador, quando as lágrimas não me esperavam correr pra me esconder. Chorava antes de dormir e às vezes acordava chorando. Foi a fase mais triste da minha vida. Eu tinha a minha liberdade, mas não tinha o apoio da pessoas mais importante da minha vida. Eis que o tempo foi passando. Minha mãe sofreu com a minha ausência dentro de casa, tirou um tempo pra refletir sobre tudo, passamos a nos encontrar, mas nunca tocávamos no assunto. Acho que ela passou a sentir a minha dor e começou a me entender, se ela conseguiu descobrir meu namoro através dos meus olhos, provavelmente também via a minha dor. Na véspera do meu aniversário de 2015, ela foi até na frente do meu apartamento pra me dar parabéns, já que eu nós não nos veríamos no dia seguinte. Entrei no carro dela, ela com os olhos cheios de lágrimas, me deu um abraço apertado e desabou em choro. Eu, que choro até assistindo aqueles programas sensacionalistas de domingo, também desabei. Chorava feito criança e me sentia acolhido dentro daquele abraço. Quando se acalmou, me disse a frase mais linda que eu já ouvi e que trouxe paz pro meu coração: "Filho, eu te amo e te aceito exatamente do jeito que você é, e se eu pudesse te fazer de novo, te faria igualzinho, sem mudar nada". Obvio que choramos ainda mais. Foi o melhor presente de aniversário que ela poderia ter me dado. Minha vida ficou mais leve e à partir dali eu me senti preparado pra encarar qualquer problema relacionado a minha sexualidade, afinal, minha mãe estava do meu lado.
PorEntreguei 

<3jipp o



domingo, 4 de dezembro de 2016

Oi. Sou seu ex

"Oi.
Sou seu ex.
Na verdade você é meu ex.
Ex é aquele que antecede.
Sou o seu ex, do ex, do ex, do ex. Se é que isso realmente existe.

Depois de mim você namorou três ou quatro vezes, acompanhei tudo secretamente pelas redes sociais.Começamos a namorar em 2012 e terminamos no mesmo ano.2012 foi um ano maluco, não é mesmo? O mundo iria acabar. E não acabou. Nosso namoro, esse sim, acabou. Eu cheguei a pensar que a minha vida também fosse acabar, mas veja só: 2015 chegou e eu ainda estou aqui. Profecias erradas.Namoramos poucos meses.Você me fez tão feliz.Nunca havia me apaixonado tanto.Eu dormia sorrindo e acordava com um sorriso ainda maior.Você era o meu primeiro e meu último pensamento do dia.O nosso primeiro beijo arrepiou a minha alma e você perdeu o fôlego, lembra?Você tão incrivelmente lindo.Você tão incrivelmente seguro.Você.Só você.Mas aí você me traiu.Me traiu com um colega de trabalho.Me traiu com um colega de trabalho qualquer.E me destruiu.E foi embora.Partiu sem se importar.Frio.Calculista."Homem foge sem prestar socorro."Manchete no jornal da vida.Da minha vida.Que já não tinha mais sentido.Eu eu fiquei em estado de choque.E comecei a fumar.E bebia pra não lembrar.E fumava pra tentar me acalmar.E bebia porque eu lembrava.E fumava porque não esquecia.E bebia porque não me acalmava.E fumava cada vez mais.E bebia pra tentar esquecer.E não esquecia.E não me acalmava.Então comecei a sair.Meus amigos me arrastaram pra balada.E eu te reencontrei por lá.E você estava tão feliz.E você estava tão lindo.E eu só queria te abraçar e dizer:- Tudo bem eu te perdoo, errar é humano, vem aqui, vamos tentar outra vez.Mas você abraçou outro cara.E beijou esse cara.NA-MINHA-FRENTE.E me destruiu novamente.E eu bebi e fumei ainda mais.Porque me traiu com o seu colega de trabalho se não tinha intenção de ficar com ele?Me traiu só por trair?Quem é esse cara que você está beijando?Eu tinha tantas perguntas pra te fazer.Eu tinha tanta dor dentro de mim.Eu estava tão frágil.E passei a ter raiva.E um dia você me ligou.Eu ouvi a sua voz.E a raiva passou.Mas você só perguntou pelo seu óculos.Que não estava comigo.E desligou.E começou a namorar com outro cara.Que não era o colega de trabalho, nem o cara da balada.E você estava tão vivo.E encheu o instagram de fotos.E legendou as fotos com palavras de amor.E terminou o namoro.E encheu o instagram com fotos na balada.E começou a namorar com uma outra pessoa.E o ciclo era sempre o mesmo.E eu fui murchando aos poucos.Fui morrendo lentamente.Tive que focar no trabalho.Pra não morrer por inteiro.E trabalhei muito.E fui promovido.Uma. Duas. Três vezes.E só trabalhava.E te acompanhava de longe.Acho que gosto de sentir dor.SADOMASOQUISMO.E dispensei tanta gente que queria ficar comigo.Tanta gente legal.Vesti um escudo.Achei que todas as pessoas eram igualmente maldosas.Maldoso como você foi.Comigo.E com o cara depois de mim.E com o outro cara, depois do cara depois de mim.E vi algumas pessoas querendo cuidar de mim.Teve um que chorou e disse que queria me fazer feliz, pediu permissão.E eu disse não.E de tanto dizer não.Acabei dizendo sim.E eu já não fumava mais.E eu bebi, mas dessa vez foi pra brindar.E eu me senti amado.De verdade.Pela primeira vez.E me senti feliz.E me peguei sorrindo sozinho.Sorriso bobo.E voltei a amar.E não era você.Verdade. Reciprocidade.E você foi acabando dentro de mim.Até acabar por inteiro.E eu passei a dar risada sobre tudo o que aconteceu.As pessoas me diziam que um dia eu iria rir disso tudo.E eu ri.E eu te reencontrei na balada.E não senti nada.Olhei pro meu namorado e vi um abismo entre você e ele.Eu só desejei que a tua maldade e que a maldade do mundo nunca atinja quem agora eu amo.E que ele nunca se corrompa por tão pouco.Como você se corrompeu.Que o mundo é sujo eu sei.Você me mostrou.Mas é possível sair ileso, basta ser bom. Basta ser do bem, meu bem.E você me viu feliz com outro alguém.E me mandou mensagem.Disse que eu estou bonito.Que o tempo me fez bem.E fez mesmo.E você pediu pra voltar.Disse que se arrependeu de tudo e que sente muito a minha falta.Disse que eu fui o único que realmente te amou de verdade.Há 1 ano atrás eu correria pros teus braços.E te dava todo o meu amor outra vez.Hoje eu te deixo esse e-mail.Que é a única coisa que eu tenho pra te oferecer.Fica bem e seja feliz.A gente só vive uma vez.Aproveita ao máximo.Aproveita com verdade.Uma vida de verdade.Um amor de verdade.Pra não ter uma vida vazia.Tchau

."Por:
Entreguei

sábado, 26 de novembro de 2016

Depois de cinco anos

Já se passaram cinco anos desde o nosso término, e só agora que estou escrevendo algo sobre você. Se você estivesse aqui se perguntaria o porquê, e eu responderia que foi porque voltei a assistir aquele seriado super antigo, Friends. Aquele que eu costumava deixar de assistir pra ficar com você. Você consegue lembrar do casal Ross e Rachel ? Nunca te disse, mas eu costumava imaginar que nós seríamos como eles. Todos aqueles términos, todas aquelas vezes em que eles ficaram separados um do outro, que se envolveram com outras pessoas, mas que no final um sempre voltava para os braços do outro. E não importava quanto tempo passasse, ou o quanto a vida levasse eles a trilhar um caminho diferente… Eles voltavam, ficavam juntos e o amor continuava o mesmo. Por um bom tempo pensei que seria assim conosco, mas me enganei. Porque você nunca chegou a me amar de verdade. E nunca se quer desejou algum futuro ao meu lado, jamais fez planos que me envolvessem, e eu sempre soube (mesmo sem querer aceitar e acreditar), que por esse motivo é que nós não iríamos continuar juntos. Nosso fim chegou, e não foi da forma que pensei que seria. Não foi um final amigável, nós dois saímos magoados, saímos com o coração partido e preenchido de rancor. E só depois de cinco anos, que estou conseguindo escrever algo sobre você. E só quero mesmo que você saiba que não importa onde você esteja, ou com quem esteja… Sempre que eu ver Ross e Rachel, lembrarei de você. E tentarei fazer deles a lembrança boa do que poderíamos ter sido, mas nunca tivemos a capacidade de chegar a ser.
— Resquícios de Outubro.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Mergulho

Encaro as suas águas cristalinas, que talvez não sejam tão cristalinas no fundo, pois não o enxergo. Respiro, conto até três. Até me impulsiono, mas não pulo. Recuo. O que me espera no fundo é um desconhecido. Pelos olhos e pela mente. Só meu coração sente. A adrenalina me invade, eu quero mergulhar. Quero conhecer cada pedacinho desse oceano. Cada grão de areia que forma sua base. E se possível, me tornar um desses grãos. Ou quem sabe uma das tantas vidas que habita em você. Corro em sua direção e mergulho. Sinto cores e vejo sensações. As melhores dessa vida. Toco a areia e toda a vida que há nesse mar e aos poucos retorno à superfície pra respirar. Sorrio. Quero ali morar. Mas as ondas firmes me jogam pra lá e pra cá, me expulsando do que poderia ser meu novo lar. Revivo, então, em minha mente todas as sensações, explosões. Hoje é um novo dia e eu retorno ao mesmo mar, ao mesmo lugar. Mergulho, revejo o novo mundo e por ele me reencanto. A ponto de não querer voltar. Ficar. Por um dia, por mês, talvez por uma vida. E a cada mergulho, maior é a vontade de permanecer lá. Até que em meio a tantos mergulhos e vontades, esse mar se torna meu único lar. O meu mar é você. E nele, quero sempre mergulhar. 

domingo, 20 de novembro de 2016

— Nessa Cross

Quando o meu olhar cruzou com o seu, naquele momento, eu sabia que me apaixonaria. Um olhar cheio de brilho, que transmitia uma energia sem tamanho. Você me encantou no primeiro olhar. Hoje, 60 anos depois, o brilho do seu olhar continua o mesmo e o meu encanto aumenta cada vez mais. Te amo para além do infinito! O meu amor não cabe em uma medida exata, é sempre mais. Me sinto tão bobo, um moleque, quando se trata de você, minha eterna namorada. 60 anos acordando ao seu lado, compartilhando cada momento, não tem preço. Seu rosto iluminado pela luz do sol, logo pela manhã, é a visão mais linda que eu já vi nessa vida. Me sinto o homem mais *privilegiado* desse mundo! Sei que sou cheio de manias, que às vezes esqueço a toalha em cima da cama, mas você sabe que sou meio desligado! Amo quando fica brava e tenta me dar bronca, mas não consegue e começa a rir, dizendo que essa será a última vez que recolhe a toalha. Seu jeito de lidar com as situações do dia a dia, sempre com calma, me motiva a ser um homem bom e a ver beleza nas pequenas coisas. Obrigada por tudo, meu amor! Toda noite antes de dormir eu peço para que eu possa viver um pouco mais e poder aproveitar cada momento ao seu lado. O tempo nunca parece ser suficiente para fazer e dizer tudo o que eu quero para você… Bom, sei que hoje não é nenhuma data especial, mas me deu vontade de escrever e mostrar o quanto te admiro. 
Ps: Bom dia, gatinha! Fui resolver uns assuntos, mas até o meio dia estou de volta. Ah, tem bolo de chocolate na mesa e já passei o café. Te amo! Beijos do seu “véio”.

O amor, o sorriso e o trem.

Achei o amor da minha vida 
lá estava ela
era uma estação de trem.
Sentada
ouvindo musica, 
seja Cícero
pensei. 
Ela me olhou
e eu sorri
ela sorriu
o trem chegou
ela se foi
meu amor embarcou em outro ramal
mas até que não me fez mal 
o amor está na pureza das coisas 
eu vi pureza naquela sorriso
então não nos faltou nada. 
Nem amor.
Rubens Miranda. 

sábado, 19 de novembro de 2016

“E se?”

E se? E se eu não tivesse te conhecido naquele dia? E se eu não tivesse te dito “Oi”? E se você não tivesse me respondido de volta com esse seu sorriso lindo? E se eu não tivesse me encantado pelo brilho dos seus olhos castanhos? E se eu não tivesse achado engraçado aquela sua piada idiota? E se eu não tivesse gostado do seu nome que é igualzinho ao nome do meu personagem de livro favorito. E se eu não tivesse naquele momento me apaixonado por você? E se não fosse apenas uma paixão? E se você não tivesse bagunçado o meu coração? E se eu não tivesse gostado dessa bagunça? E se eu não pensasse em você 24 horas por dia? São tantas possibilidades do que poderia ter acontecido, mas de uma tenho a certeza: Foi amor. E tê-lo ao meu lado, em minha vida foi a melhor delas e mesmo que não esteja mais aqui comigo nesse momento. Em meu coração você sempre vai estar e ao ouvir seu nome ou te vê, meu coração irá disparar, pois é você que eu amo de verdade e sempre vou amar. Você é o único dono do meu coração.
— Almalizo & Escritorragia em: “E se?”  

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

— Coleções de um menino.

Já eram seis da manhã e tudo parecia do mesmo jeito, a mesma vidinha chata, monótona e cheia de decepções. Mas o engraçado disso tudo era que eu tinha um motivo pra acordar nesse horário: a cafeteria, perto da faculdade, costumava abrir nesse horário, e tinha o melhor café da cidade. Claro, é óbvio que eu não iria lá apenas pra tomá-lo… Fazer o que se minha carne é fraca e ela tão bela. Afinal de contas, o primeiro tempo de aula só eram três horas depois. Mas valia a pena chegar nesse horário, porque dava pra ver em seus olhos que ela odiava acordar cedo. Então ela ficava de bico e com cara de rabugenta, querendo voltar pra cama. Você deve se questionar o porquê eu gostava disso, mas a resposta era simples: ela ficava linda fazendo bico. 
Uma garota estatura média, morena de cabelo longo e com os olhos negros que brilhavam mais que as estrelas. Me perguntava onde estariam as asas dela, pois, se não fosse um anjo, bom… Então não sei o que ela era. 
Seu nome era Anne — eu só sabia disso, pois estava escrito em seu avental — morria de vergonha e não tinha coragem de falar com ela, imagina então, coragem pra convidá-la pra sair, pois é, não tinha. 
Sentado na última mesa que ficava ao lado da janela, onde podia assistir o movimento dos carros, pessoas e até mesmo dos pássaros, enquanto espera ela me atender. Meu coração acelerava sempre quando ela vinha em minha direção anotar meu pedido e hoje não estava sendo diferente.
— Bom dia! Vai querer o mesmo de sempre? 
— Sim, por favor — o sorriso dela era tão simples, mas ao mesmo tempo acordava as borboletas no meu estômago.
Ao se passar alguns minutos, lá vinha ela novamente com a bandeja. Sempre pedia um cappuccino médio e cinco pães de queijo.
— Com licença, aqui está o seu pedido, mas alguma coisa? 
— É… N… Não. Muito obrigado. 
Quando ela seguia o seu caminho de volta para a cozinha ela se virou e me olhou nos olhos. Nunca imaginei que ela teria essa dúvida, que ela teria a curiosidade de saber isto, mas então ela me perguntou. 
— Desculpa a curiosidade, mas você sempre vem aqui no mesmo horário, todas as manhãs. Já é de casa, mas nunca soube teu nome. 
— Aaah… É… Me desculpa, meu nome é Caleb, Caleb Green— não precisava de um espelho, mas era algo notável que eu estava vermelho de tanta vergonha. 
— Muito prazer, meu nome é… 
— Anne!
— Anne… Prestor — ela me olhava de forma assustada. 
— É que está escrito no teu avental, me desculpe — envergonhado apenas olhava para minha refeição, mas quando a olhava novamente ela estava rindo e isso me deixava nas nuvens. 
Então alguém do outro lado gritava, chamando a garçonete para fazer o pedido. 
— Ah, sim. Tinha me esquecido desse detalhe. Prazer em conhecê-lo. Vou indo, que estão me chamando.
Aquele momento via meu coração na garganta, minhas mãos estavam suando, meu Deus… Ela era perfeita.

http://renunciei.tumblr.com/post/145334619090/j%C3%A1-eram-seis-da-manh%C3%A3-e-tudo-parecia-do-mesmo

Coisas que você não precisa necessariamente antes dos 20

Estar na faculdade. estar namorando. ter estabilidade emocional. ter um emprego que te pague fortunas. beber como se não houvesse amanhã. usar drogas. ter redes sociais. ter um celular de ultima geração. ser magro. ter um carro. ter paciência (você ainda vai aprender muito para não se estressar mais com as coisas). ter uma caralhada de amigos. viver sorrindo pra todo mundo. 

sábado, 5 de novembro de 2016

Esfaqueem-me


Usem facas
espetos, cacos de vidro
ou até mesmo palavras
me façam sentir algo
pois já estou morto
os inquilinos já calaram-se
minha sanidade fala baixinho
arrancam-me poemas tristes
e me pedem para adorar a um deus
quem são vocês para falar de glória?
quem é você se não um resto de pó?
você se reconhece no espelho?
sabe de onde veio?
do pó à loucura.
Você tem cheiro de manhã
e desses raios solares que usam as frestas da janela para invadir a casa.
você cheira a café
feito antes dos pássaros acordarem.
cheira a abraço sonolento
após uma noite não dormida.
você cheira a coisas boas
mas eu tenho medo de coisas boas.
porque coisas boas 
às vezes só são boas no começo
e quando a gente começa a amar, essas coisas mudam.
e mudança às vezes dói.
-

Se chover, sou eu

cansei de chorar pelos olhos
ou dedos
agora eu choro pelo céu!
então já sabe…
se chover, sou eu.
— paris, 1992.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Desisti

Desisti. E isso é a coisa mais triste que tenho a dizer. A coisa mais triste que já me aconteceu. Eu simplesmente desisti. Não brigo mais com a vida, não quero entender nada. Vou nos lugares, vejo a opinião de todo mundo, coisas que acho deprê, outras que quero somar, mas as deixo lá. Deixo tudo lá. Não mexo em nada. Não quero. Odeio as frases em inglês mas o tempo todo penso “I don’t care”. Me nego a brigar. Pra quê? Passei uma vida sendo a irritadinha, a que queria tudo do seu jeito. Amor só é amor se for assim. Sotaque tem que ser assim. Comer tem que ser assim. Dirigir, trabalhar, dormir, respirar. E eu seguia brigando. Querendo o mundo do meu jeito. Na minha hora. Querendo consertar a fome do mundo e o restaurante brega. Agora, não quero mais nada. De verdade. Não vejo o que é feio e o que é bonito. Não ligo se a faca tirar uma lasca do meu dedo na hora de cortar a maça. Não ligo pra dor. Pro sangue. Pro desfecho da novela. Se o trânsito parou, não buzino. Se o brinco foi pelo ralo, foda-se. Deixa assim. A vida é assim. Não brigo mais. Não quero arrumar, tentar, me vingar, não quero segunda chance, não quero ganhar, não quero vencer, não quero a última palavra, a explicação, a mudança, a luta, o jeito. Eu quero não sentir. Quero ver a vida em volta, sem sentir nada. Quero ter uma emoção paralítica. Só rir de leve e superficialmente. Do que tiver muita graça. E talvez escorrer uma lágrima para o que for insuportável. Nada pessoal. Algo tipo fantoche, alguém que enfie a mão por dentro de mim, vez ou outra, e me cause um movimento qualquer. Quero não sentir mais porra nenhuma. Só não sou uma suicida em potencial porque ser fria me causa alguma curiosidade. O mundo me viu descabelar, agora vai me ver dormir. Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Ninguém dá conta e quer saber? Nem eu. Chega. Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio. I don’t care.
— Tati Bernardi.   

domingo, 7 de agosto de 2016

Talvez a última


Mais uma vez, deitar,

Com olhos fechados,

Lágrimas no travesseiro,

E coração apertado,


Mais uma vez, chorar,

Deitada em minha cama,

Esperando algum sinal,

Pra acabar com esse meu drama,


Mais uma vez acreditar,

Que tudo vai passar,

Que será passageiro,

Amanhã quando acordar,


Mais uma vez pensar,

Que tudo pode acabar,

Eu sofro em silêncio,

Para ninguém escutar,


Mais uma vez querer,

Que seja a última vez,

Para que de alguma forma,

Eu para de sofrer,


Mais uma vez, talvez,

Seja essa a última,

Eu já estou cansada,

De chorar por você.


-Bru Gomes

sábado, 23 de julho de 2016

O amor....

Você olha para o lado e no muro mais uma frase romântica pichada. Sorri feliz e até tira uma foto, o amor está lá, pintado no e emocionando quem passar por ali e ler. O amor está escrito no papel da bala, com frases curtas e incríveis e parece o suficiente. No adesivo do carro com corações vermelhos. E agora, ele também está lá, publicado no seu mural todos os dias. O amor está sendo divulgado em frases mal elaboradas a espera de mais uma opção curtir, de mais um seguidor. Em tempos onde todos viraram poetas e discípulos do romantismo, o amor se perdeu de vez num emaranhado de palavras que, juntas dizem menos do que separadas. E ‘eu te amo’ é frase que se compra e se vende mais barato do que pastel de feira. Antes o amor era cafona, agora o amor é plágio. Vem cá, onde ele foi parar mesmo? Do luxo ao lixo. Saiu dos corações, dos beijos molhados, das surpresas e das mãos dadas para virar politicagem barata em redes sociais. O amor está em promoção: “curta um e leve dois”. A nova aliança é ‘me segue que eu te sigo’ de volta. O romance escorre nas palavras enquanto o computador está ligado, depois são lágrimas que escorrem no travesseiro sem ninguém perceber. E no dia seguinte, uma frase de Vinícius de Moraes publicada só para dizer ao mundo que você ama e é feliz. Quando na realidade não sente um beijo de verdade faz um bom tempo. Tão acostumados a escrever, nós deixamos de dizer. E quanto menos se diz sobre o amor, menos se sabe sobre ele, menos se vive e muito menos se sente ou faz com que o outro sinta. Amar não é só escrever que ama. E se quiser digitar uma poesia, faça isso com seus dedos em minhas costas, por favor! Pior do que se ajoelhar virtualmente e declarar o amor para milhares de amigos que você sequer cruzou nos corredores do colegial ler, é aceitar aquelas declarações emolduradas por uma tela de computador, com palavras previamente ensaiadas, com pedaços de músicas se encaixando perfeitamente, vírgulas nos lugares exatos, reticências poéticas e uma concordância escandalosamente perfeita num exagero beirando o precipício. O amor escrito minuciosamente. Ali, perfeito e entregue de bandeja. E você aceita essa bandeja sem questionar e sem lamentar que não pode segurar ela com as mãos. Pior é acreditar em parágrafos que circulam em Ctrl C + Ctrl V e se sentir especial. Se o amor fosse uma pessoa, com toda certeza iria encher a nossa cara de porradas e cobrar ‘que porra é essa que vocês estão fazendo comigo?’. O amor virando palhaço de circo e a gente aplaudindo. O amor na vitrine e a gente se contentando em só olhar. O amor que antes era uma linda e natural flor, com cheiro e textura, agora virando flor animada em GIF, coberta de glitter. Me diz, cadê o toque? Onde estão os ‘eu te amo’ sussurrados ao pé do ouvido? As declarações mal feitas, acompanhadas de olhares apaixonados com medo de falhar? Onde estão os arrepios e o perfume? Estão todos engavetados e esquecidos e a culpa é toda nossa, simplesmente porque nós não cobramos o amor na carne. Não exigimos o amor ao vivo, no último volume. Temos medo de encarar o real tamanho do sentimento, e então usamos escudos disfarçados de telas frias e filtros do Instagram. Se for por culpa da distância, tudo bem e a gente aceita declarações que ajudem a manter a lembrança de que o outro existe e ama. Mas faça isso com competência. Muitos querem uma grande estória de amor, mas poucos são competentes para isso. Se for virtual, prefira então as promessas. E principalmente, aquelas que se cumpram depois lá fora, no mundo real, onde a gente se olha nos olhos enquanto faz amor. Onde compartilhamos a saliva e o suor – e não apenas frases. O amor não pode ser descartável. O amor não pode ser assim, fácil de deletar. Bastando um backspace e o amor acaba. Bastando um ‘desfazer amizade’ e o amor some. Bastando uma tinta no muro e o romantismo sendo abduzido sem que ninguém note. Não! Queira do amor tudo o que ele pode oferecer. A voz, a pele, o gosto, o olhar e a dor. Viva e morra por amores profundos e reais. Sofrer por publicações é humilhante. Morrer de amor apenas por frases é decadente. Faça-me versos sim, me cante com poesias de Leminski e Drummond de Andrade. Eu não quero que as palavras morram. Mas, ao final delas, não me mande ‘beijos’ virtuais, desligue isso aí e venha até aqui me beijar.
— Camile Heloíze.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Homem não gosta de mulher que insiste com recados consecutivos, mas também não gosta de mulher que não telefona. Mulher não gosta de homem que a persegue, mas também não gosta de homem que não a procura. Homem não gosta de mulher fácil, mas também não gosta de mulher difícil. Mulher não gosta de homem doce, mas também não gosta de homem rude. Homem não gosta de mulher que fica com muitos, mas também não gosta de encalhada. Mulher não gosta de mulherengo, mas também não gosta de travado. Homem não gosta de ser questionado, mas também não gosta de ser esquecido. Mulher não gosta de ser contrariada, mas também não gosta de gente passiva. Homem não gosta de estardalhaço, mas não adia uma bagunça. Mulher gosta de estardalhaço, desde que não vire bagunça. Homem não gosta de ser debochado, mas também não suporta ser levado sempre a sério. Mulher não gosta de brincadeiras sem graça, mas não admite a ausência de brincadeiras. Homem não gosta de fofoca, mas é o primeiro a contar as novidades aos amigos. Mulher gosta de fofoca, mas deseja preservar sua privacidade. Homem não gosta de jantar na casa da sogra, mas também precisa dela. Mulher não gosta de ser comparada com as antigas namoradas, mas também quer saber todos os detalhes. Homem não gosta de ser surpreendido, mas também não gosta de saber antes. Mulher adora um mistério, mas com aviso prévio. Homem não gosta de comprar lingerie, mas também é o primeiro a criticar a que ela está usando. Mulher ama comprar lingerie, mas também é a primeira a dizer que a incomoda. Mulher prefere calcinha bege, não aparece com a roupa. Homem abomina calcinha bege, aparece demais quando ela tira a roupa. Homem não gosta de discutir relacionamento, mas também não gosta do silêncio. Mulher gosta de discutir relacionamento, mas odeia chorar no meio da briga. Homem não tolera filmes românticos, mas não desliga quando reprisados na tevê. Mulher não aguenta filmes de ação, mas também é um alívio não pensar muito. Homem tem dificuldades para se declarar, mas faz o impossível para ser denunciado. Mulher espera declarações, mas não quando está se arrumando. Homem reclama dos atrasos, mas também detesta quem chega antes. Mulher odeia a impaciência do homem, mas também se enerva com a letargia. Homem não resiste a um videogame, mas também não deseja ser chamado de criança. Mulher abusa dos diminutivos, mas também diz que cresceu. Homem pede desculpa quando machuca, mas não aceita desculpa quando machucado. Mulher se desculpa antes de errar, depois não se lembra. Mulher desvia o assunto quando se desinteressa, mas não gosta que não prestem atenção nela. Homem não gosta de ser interrompido, mas vive interrompendo. Mulher admira poesia, mas não no sexo. Homem procura agradar a mulher ao recitar poesia no sexo. Homem não gosta de unhas vermelhas, mas fica excitado com elas num filme pornô. Mulher gosta de unhas vermelhas porque detesta filme pornô. Mulher anseia pelas flores, mas nunca tem um vaso para colocá-las. Homem gosta de mandar flores, mas desiste na hora de escrever o cartão. E ambos não gostam do meio-termo.
— Fabrício Carpinejar.  

terça-feira, 31 de maio de 2016

A gente segurou a mão um do outro pela primeira vez e eu acho que isso merece algum tipo de manifestação. Era como se o mundo tivesse permissão pra acabar enquanto nós nos beijávamos no meio de um show de rap. Porque parece mesmo que aquilo que temos seja algum refúgio do mundo, ou pode ser que o resto das pessoas estejam se refugiando de nós dois. Eu não tenho certeza sobre as nossas reais intenções, mas toparia qualquer coisa pra passar essa noite do teu lado, tentando descobrir. Porque eu já não acho mais nenhum outro ser humano interessante e de repente o seu beijo é o maior abraço que o meu corpo recebeu. Eu quase cogito a ideia de um estudo científico sobre o brilho do nosso olhar quando juntos. Como se nenhuma risada do no mundo fosse mais acolhedora que a sua e como se dar as mãos, em meio a um momento difícil, fosse a melhor forma de dizer que o teu corpo e coração estão comigo. Você me faz ter vontade de rir, cozinhar, te olhar tocando violão e não me importar com nenhuma das pessoas que nos pedem calma.

Pode ser que estejamos mesmo no entusiasmo e no fim vamos acordar dessa utopia, mas não me deixa faltar esses olhares convidativos, porque eles sabem muito de mim. Não deixa perder essa fusão de sentimentos quando nos olhamos bobos e sorrindo na frente dos nossos amigos, porque sorriso era a única forma de gritar o que a gente sentia. Não me deixa mais faltar esse medo de dizer que pode sim ser amor, mas que existe falta de ar dizendo isso. Não me deixa faltar essa saudade absurda de dormir todos os dias ao seu lado, de sexo matinal, de risada descontrolada, de códigos nossos, de “me ajuda aqui a limpar o meu banheiro”. Eu te gosto de formas incorrigíveis.
Eu poderia terminar todos os domingos da minha vida te dando um beijo estranho dizendo que vou sentir sua falta, mas ao invés disso a gente ri durante a frase e se mostra maior do que qualquer saudade. Eu poderia tomar banho todos os dias e descobrir marcas suas pelo meu corpo. Poderia dizer que o convite de entrar na sua casa poderia ser pra entrar na sua vida e que te ver cozinhando é a coisa mais sexy que o mundo já me proporcionou. Eu gosto de cada centímetro de você e a minha alma sorri quando eu levo a surpresa de ganhar um “cara, tu é linda” enquanto lavo a louça.

E por mais que os nossos amigos tentem, a gente não namora, a gente não exige compromisso nem nada. A gente não se prende, mas nunca mais queremos nos soltar. A gente não tem rótulo, mas tem um ao outro como ninguém tem. A gente não tem vergonha, a gente ri quase que vinte e quatro horas por dia, a gente se aguenta no mau humor, a gente divide a cama com a sua cadela peluda, a gente bebe shots de tequila sem sal nem limão, mas com beijos. A gente divide o poder de congelar o mundo enquanto se olha. A gente não tem apelido carinhoso, mas hoje à noite eu queria te chamar de meu.

— Eduarda Leichtweis.

domingo, 29 de maio de 2016

Saudade

Às vezes bate uma saudade de tudo que já passei, desde os mementos fáceis aos mais difíceis, daqueles que pensamos que nunca iriam acabar. É como se abrisse um buraco dentro de ti, e tu caísses, sem ter onde segurar. Os anos passam, a vida passa, nós crescemos e o que fica para trás? A SAUDADE. Olho as fotos de quando criança, ou até mesmo da adolescência e mesmo acabando de sair da mesma, da um aperto no peito, só em saber que algumas pessoas que estava comigo, hoje já não estão mais. A lembrança é o que me resta, ou melhor, nos restam. Cada pessoa que faz ou fez parte de nossa vida, é um grão de areia para essa construção. Somos um monumento onde só restam as lembranças, cada qual com sua magia de fazer rir, chorar, estressar, odiar, amar, ou até mesmo aquelas pessoas que mesmo não fazendo parte do seu dia a dia, é como se ela estivesse contigo. Eu sou assim, esse poço de sentimentos, uma hora sentimental demais, outra hora nem aí,  com vontade de viajar mas também tem aquele momento de ficar sozinho, sem ninguém para falar nada, mas é uma pena que sempre tem alguém para estragar esse momento. Eu tenho disso, de sentir saudades do que já foi, do que está por vir, ou até mesmo do presente e infelizmente não estou aproveitando, é como uma dor que nunca se acaba, tem dias que sou tão sentimental que só quero ficar calado, na minha, sem ter alguém pra perguntar o porquê de eu estar assim. Sem falar de saudade, talvez até com com ciúmes das pessoas que só fazem turismo na minha vida, tenho quase certeza que é ciúmes, mesmo não fazendo tanta diferença na vida das mesmas. É, a saudade às vezes nos mata aos poucos, sem  percebermos, mas é a vida, se não há presente, não há passado, e se não há passado, não há futuro. 
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