quarta-feira, 30 de março de 2016

Quem é você? Por que você insiste em permanecer nos meus pensamentos, a qualquer hora do dia, em todas as ocasiões? Por que meu coração insiste em te amar, em persistir nesse caminho louco na qual o fim não fora desvendado? Por que toda vez que penso em você eu sorrio? Por que ao lembrar do seu toque, meu coração se aquieta e eu sinto um alívio no corpo? Por que quando estou triste, pensando em cometer loucuras, eu lembro do seu sorriso ao me ver e logo sinto vontade de viver para te ver feliz? Por que todas as vezes que ouço seu nome meu coração dispara? Por que desejo tanto estar ao seu lado, para cuidar de você, para proteger? Por que vivo reclamando do tédio, de ficar atoa, mas quando estou atoa e você está comigo é a melhor sensação do mundo? Por que por mais que eu pense em desistir, em te deixar, meu coração sempre encontra um meio de me mostrar que não posso ser feliz sem você? Por que eu não posso ser feliz sem você? Por que nunca senti isso antes? Por que estou me sentindo amada nesse momento? Por que quando eu te vejo um sorriso abre em meu rosto? Por que ao te abraçar sinto como se nada pudesse me atingir? Por que choro toda vez que te imagino longe, imagino como seria se eu não pudesse mais tocá-lo? Por que apenas com um olhar eu consigo compreender sua vontade? Seus pensamentos? Por que estou sonhando com você? Por que quando estou feliz, sempre tem seu nome envolvido? Por que a primeira pessoa que penso ao acordar, é voce? Por que tudo que penso em fazer, coloco você no meio? Por que jurei nunca voltar atrás de tantas atitudes e sempre voltei só para não te perder? Por que se eu não falo com você meu dia parece incompleto? Afinal, quem é você? Por que gosto tanto de ouvir a sua voz? Por que seu beijo é o mais gostoso? Por que eu acho a sua risada linda, se você parece um louco sorrindo? Por que fico boba quando você sente ciúmes de mim, se muitas vezes isso me irrita? Por que não consigo ficar brava por muito tempo com você? Por que eu amo te irritar, se quando você me irrita eu fico brava? Por que todos podem me chamar de linda que eu não acredito, mas se você disser que sou bonita, eu me sinto a pessoa mais linda naquele momento? Por que você tem tanto domínio sobre a minha vida? Por que em meio a tantas coisas eu não desisti de você? Por que o que eu sinto nesse momento é tão forte? Por que agora estou chorando lhe escrevendo isso? Por que eu não consigo parar de escrever? Por que por mais que eu diga, nada parece suficiente para demonstrar a imensidão dessa vontade, desse desejo, dessa necessidade de ter você? Por que eu preciso tanto de você? São tantas perguntas sem respostas, e por mais que eu diga, eu nunca encontrarei respostas para todas. Mas uma coisa é certa, eu não sei por que me apaixonei, nem por que sinto tantas emoções, como uma máquina de sentimentos descontrolados, mas sei que eu nunca fui tão feliz como agora, nunca quis tanto agradecer por ter conhecido alguém, como hoje eu agradeço por ter conhecido você. Não sei o porquê de você estar na minha vida, mas te peço que fique, pra sempre.
— Esse cara é você    

terça-feira, 29 de março de 2016

Canalhas

A gente meio que se acostuma com canalhas. Como aquele que te faz pensar em sexo no banheiro de balada. Bonito, com camisa de marca, relógio Armani no pulso e jeito meio idiota. Te pega pela risada e com os sórdidos três dedos na cintura. Você não sabe se tá zonza por causa do perfume, do sorriso escanteado ou pelo olhar sutil que ele traçou entre os seus seios, sua nuca e sua boca. Tem como não dançar? Digo que na lata que é covardia. O cara sussurra no seu ouvido que passou a noite inteira te olhando, e você nem sequer se lembra de como se faz de difícil numa hora dessas. Lá no fundo, sabe que canalhas românticos não ligam no dia seguinte. Mas, pra que se importar? De vez em quando eles até convidam para o cinema na próxima semana, em filme daqueles bem vagabundos que você só consegue lembrar como foi que ele te beijou da última vez ou quando pode deixar que aquilo acabe na sua cama. Acho sacanagem à capacidade que eles têm de te fazer rir com humor inteligente. Tem coisa mais chata que homem bonito, engraçado e inteligente? O pior é que tem: canalhas que confundem a cabeça da gente. Sabe bem? Zoam o cabelo, falam do seu modo de andar e acham graça na careta que você faz quando se pega perdida no meio de uma conversa. Te perturbam com a mania de deixar subtendido o que pode acontecer ou não. Sexo de sexta pode virar namoro, beijo na testa é quase como eu te amo, e o abraço é um claro “eu não sei mais viver sem você”. É tipo de cara que mexe com a gente fazendo tudo errado pra tu se envolver. E nada é tão bom quanto ser tirada do sério por um bom idiota. Você quer se livrar, mais não sabe como, quer partir pra outra até se dá conta que o gosto de um canalha nunca te deixa em paz. É como um cigarro. O prazer imenso de passa-lo pelos dedos e levar ao lábios. Canalhas como esses são irresistíveis pelo simples fato de fazer tudo o que você não quer.Ou será que quer? A gente tem a incapacidade de resistir a uma resposta e eles de fazer qualquer coisa que esteja fora da sua consciência de dizer não. Eles tem um bom sexo, uma boa conversa, e péssimo hábito de deixar o cheiro de perfume importado pelo quarto, enquanto vão embora no meio da madrugada. Não se lembram de deixar um bilhete no travesseiro, muito menos de ligar no dia seguinte. Mas no fim da noite, a gente senta no balcão e pede pra descer uma dose de canalha, da pior espécie, se for possível.  
-Danielle Quartezani.

segunda-feira, 28 de março de 2016

PS.: Espero que não se arrependa do que fez

Once upon a time, a few mistakes ago. I was in your sights, you got me alone.” Sempre imaginei que quando as pessoas se apaixonavam o mundo se tornava mais leve, as flores dançavam com o vento, a lua brilhava mais forte e os dias ruins se tornavam apenas lembranças de um passado quase esquecido. Mas não foi isso que aconteceu, não comigo. Você transformou algo colorido e brilhante em uma tempestade onde as trovoadas se sobrepõem ao choro de uma criança com medo. Acreditei que tu era a pessoa certa para me fazer entender o significado de “destinados a ser”, mas a nossa história não passou de um erro de calculo do destino que fez com que o meu caminho infelizmente se cruzasse com o seu e eu boba e romântica pensei que se tratava de um conto hollywoodiano em que o vilão no final se redimia e se tornava um rapaz bom para ser digno de estar com a mocinha. “Pretends he doesn’t know that he’s the reason why you’re drowning. Fui muito inocente mesmo, você era o tipo de cara que magoa as pessoas, mas eu apaixonada não quis ver isso, quis acreditar que você era diferente, mas suas atitudes não ajudavam, tudo me mostrava o quão errado você era, mas me recusei a acreditar e aqui estou, sozinha novamente, e você? Em outra! É clichê, mas o mundo é clichê. Ainda não acredito que foi tudo em vão, que o passar do tempo ia fazer você me trocar tão rápido. Me sinto como uma “roupa velha”, que você usa, usa, depois deixa de lado quando compra uma melhor. Ainda hoje sonhei com nós dois, e no sonho era tudo tão diferente, tão real. Suas palavras doce me deixavam fissurada, o seu toque me tranquilizava, e a vontade de beijar era insaciável. Creio eu, que não merecia ter levado essa queda de tão alto. Acredito que eu fui o melhor que pude ser, que eu te fiz feliz. Eu até que fui ótima demais pra você, mudei, me adaptei à ti. Vi meu mundo colado ao teu, vi um futuro à frente onde existia nós dois, o Teo (seu dog, que eu sinto tanta falta de quando vivia pulando em cima de mim pra poder acarinha-lo), e vi também um bebê que tinha o teu sorriso, e os meus olhos. Sonhava com o dia em que seríamos marido e mulher, dividiríamos tudo e você me ajudaria na tarefas de casa. Ou não passaríamos o dia inteiro na cama nos amando como se não houvesse amanhã, até porque não precisaria de mais nada. Seríamos muito felizes. Mas você me trocou por ela, e bom espero que esteja muito feliz ao lado dela, espero também que ela seja a pessoa certa pra você. Sejam muito felizes.
Escrito por KellyLetícia B.Amanda e Nicácia em Julieta-s.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Muita Coisa Inacabada Porque a Gente Acabou - Part I

O conto a seguir foi retirado do tumblr: http://www.sociedadedospoetasmortos.com / http://mcipaga.tumblr.com
“São 3 da manhã, estou lendo um desses romances clichês do Nicholas Sparks para poder me sentir mais amada e menos sozinha, mas não consigo prestar atenção em nenhuma palavra e acabo jogando o livro de lado. Vou até a cozinha, abro a geladeira, sinto aquele geladinho consumindo meu rosto por míseros segundos, respiro e me dou conta do que eu precisava não se encontrava exatamente dentro da geladeira. Pego uma água só para eu me sentir menos tola, e dou uma espiada na janela da sala. É lua cheia. A lua que eu mais odeio e a que você mais ama. Mas me conforta observá-la, é como se alguém me pegasse no colo e me colocasse pra dormir enrolada em um edredom. Sinto vontade de escrever, e faz 6 meses que eu não sei o que é pegar num lápis e sentir prazer em deslizá-lo no papel. A vontade passa quando o telefone toca. É JP, o cara que eu tenho saído já faz algum tempo. Ele é aquele estereótipo de cara perfeito, se veste bem, me leva pra jantar, me manda flores, toca violão e marca viagens surpresas para lugares que eu mais desejo ir. O cara perfeito, o cunhado perfeito, o genro perfeito, a porra toda perfeita, mas que no fim das contas não fazia eu me sentir perfeita. Alias o que é mesmo ser perfeita? Eu quero sumir daqui. É isso, eu quero largar meu emprego, meus estudos, minha casa, minha família, meu projeto de namorado perfeito e simplesmente desaparecer. Sem deixar rastros e nem nada. Sumir e pronto. Ai eu ia recomeçar a minha vida do zero, conhecer novas pessoas, novos lugares, novos ambientes e finalmente tentar ser um pouco mais eu do que um dia eu tenha sido. Finalmente o telefone para de tocar, mas a campainha dispara um ruído tão alto, que eu solto um grito abafado do qual o sujeito nota de que há alguém acordada. Merda! Abro a porta, e é JP. Sorrio amarelo com aquela expressão de quem queria dizer “QUE DIABOS VEIO FAZER AQUI?”, e noto que o moleque mais uma vez estava com um buque de flores na mão e na outra chocolates. Oba, chocolates! Começo a comer esquecendo de sua presença no sofá. “Tá tudo bem? Eu te liguei.” Aham, eu vi que você me ligou umas 300 vezes e mandou no mínimo umas 500 sms. Ele me olha de uma maneira como se não me reconhecesse mais, e não conhece! “Você tá com uma aparência horrível, por que não vai tomar um banho e a gente assiste um filme qualquer? Ein? O que você acha?” O QUE EU ACHO? EU ACHO QUE VOCÊ NEM DEVIA TÁ AQUI PRA COMEÇAR E EU NÃO TÔ AFIM DE ASSISTIR PORRA DE FILME NENHUM! Alguém por favor tira esse cara daqui? Não dou a mínima pro que ele fala, e continuo comendo meus chocolates como se o fim do mundo fosse no dia seguinte. Ele se aproxima como quem quer alguma coisa em troca, é sexo, aposto, ele não trouxe esses chocolates atoa. Não tô nem um pouco a fim de trepar, transar, fazer sexo, ser comida, seja lá o que ele veio fazer aqui, mas ele alisa minhas pernas e pressiona meu corpo ao dele, e pela primeira vez na vida eu me senti a pessoa mais suja desse mundo. Me exalto. “Olha só JP, eu não to afim de ser comida hoje, amanhã eu acordo cedo e fazendo as contas com o horário de agora, eu tenho exatamente 4 horas de sono, então se você não se importar, a gente combina de trepar outro dia, ok?” Na hora ele se levantou, sua expressão de safado mudou para assustado e ele saiu da minha casa de uma maneira como se nunca mais fosse voltar. E não voltaria mesmo. Me senti um pouco mais sozinha do que eu já era. Liguei a tv como companhia e fiquei mudando de canal loucamente como se fosse encontrar algo de que tanto desejava. Não sabia mais o que estava fazendo e chorei por isso. Chorei por ter mandado mais uma pessoa da minha vida embora. Chorei porque o chocolate havia acabado e eu já não sabia onde mais ia depositar a minha ansiedade. Chorei porque eu tinha o mundo nas mãos e resolvi carregá-lo nas costas. E tudo aquilo me pesava tanto, que chorar era tudo que me restava. Ai parei num canal que estava passando “Tom&Jerry” e pela primeira vez durando 6 meses eu sorri de verdade. Foi um sorriso de dentro pra fora, uma vomitada pra vida. E tudo isso tinha muito a ver com você. Era seu desenho favorito, lembra? É claro que eu lembro, foram muitas raivas passadas enquanto eu discutia nossa relação e você dava altas risadas em meio ao gole de cerveja. “Dá pra você desligar essa merda e prestar atenção em mim?” “Ahh amorzinho, vem assistir comigo.” Como eu odiava profundamente a palavra “amorzinho”, e como eu queria ser chamada de amorzinho agora. Pego o telefone e começo a discar seu número. Desisto. A essa hora ele deve tá trepando com a vizinha ou ta tão chapado ao ponto de não saber atender o maldito telefone. Amanhã eu ligo, hoje não. Na verdade eu é quem queria ser procurada, ser achada, e ser inteira mais uma vez. Vou deitar com a intenção de encontrar a minha paz, só que faz tanto tempo que eu não sei o que é ter paz. Abraço o travesseiro com a ânsia de ser abraçada de volta, e me questiono “Quando foi que eu me tornei uma pessoa tão vazia?” E me recordei da vez que eu me senti tão cheia, a ponto de transbordar. Você me sugeriu pra pegar umas duas ou três peças de roupa, um pouco de dinheiro, minha escova de dente e só. 20 minutos depois tava você aqui em casa com o carro da sua mãe dizendo que íamos viajar. Viajar? Pra onde? Eu não posso viajar. Amanhã eu tenho uma reunião, provas e falava sobre todo o meu planejamento do dia seguinte como se fosse a coisa mais importante do mundo, e você sempre me calava com um beijo fazendo eu esquecer de todo o resto. Suas viagens nunca eram planejadas, a gente brigava 99% do tempo porque tudo saia errado, e eu odiava erros. E olha eu aqui, sozinha, no meu quarto, recordando o quanto eu queria estar errando agora.”

Muita Coisa Inacabada Porque a Gente Acabou - Part II

“Essa garota me engole enquanto beija, pressiona o corpo com força nas minhas pernas quase abertas, coloca minhas mãos na cintura dela, fica claro que ela está transando comigo; o rádio toca uma dessas musicas moderninhas que não são nada autênticas, meus olhos estão abertos, os dela estão bem fechados, chega a ser ridículo a força que ela coloca nas pálpebras, concluo que eu não estou transando com essa garota, mas sei mentir bem. O celular toca, é a minha mãe, a garota quer que eu dê atenção somente a ela, mal sabe que não presto atenção nela desde sua declaração horrenda sobre odiar Jazz e cantores negros. É um puto defeito, consigo me desencantar em segundos. “Espera aí mãe, me deixa finalizar essa menininha.” As semanas seguintes são essenciais para que tudo vá por água a baixo, ela me chama de canalha, patife, escroto filho da puta, frio, e ainda diz que sou bloqueado emocionalmente. Ainda bem. Sei que tudo está acabado quando ela me envia aquela SMS: ESPERO QUE VOCÊ SEJA BEM INFELIZ, ANIMAL, ESTUPIDO… (e blá blá blá). Fora tudo isso, eu até que sou um cara legal, gosto dessas camisetas de um bolso só, tênis azul marinho, musicas dos anos 80 e sei cozinhar frutos do mar como ninguém. Também vou à igreja sempre que posso, “perdão padre, pequei feio esse final de semana, falei para ela que a amava só pra foder mesmo” Ele da aquela bufada pesarosa e me manda rezar alguns Ave marias. No sábado seguinte esqueço as rezas e os conselhos da minha mãe, vou com tudo, não me ache um escroto, mas não há nada como beijar e apalpar uma garota no sofá, bêbado até o talo. Todo mundo está vendo, até que ela pede pra gente procurar um lugar mais calmo, coloco minha mão dentro da calcinha molhada dela e a encosto na parede, me sinto super machão, até que ela toca na minha orelha e… Acabou garota, preciso mesmo ir pra casa, alimentar meu cachorro. Ela não deixa, e se esfrega no meu corpo indiferente, se abaixa, tira minhas calças e diz que adora o meu gosto, reviro os olhos, acho super golpe baixo fazer um boquete em um cara que está com a cabeça longe. E está mesmo, sempre no mundo da lua, ou na lua do mundo! No caminho de volta, coloco aquele pendrive com aquelas musicas antigas, e é a primeira vez em seis meses que lembro que tenho lembrado de você, juro que não quero dizer como até o tempo abafado tem o seu gosto, minhas canelas enfraquecem, minhas mãos deslizam no volante, mal consigo trocar as marchas. Meu cérebro remete as coisas permanentes, sólidas, seguras, coisas que não tem absolutamente nada a ver com seu jeito desajeitado de viver. Essas imagens vêm em seguida: Domingos regados a cerveja com meu cunhado, jogar bola com meus sobrinhos, ler para minha mãe, cozinhar a sobremesa que a família acha ser uma tradição. Como são insuportáveis as tradições. Me sinto estagnado, fora do tempo. Ligo para a Laura, falo mundos e fundos de coisas românticas já programadas, e cá estou eu, ensopado de cachaça enquanto essa mulher tira minha roupa, ela elogia minha barba, e goza, faz isso porque se entrega, ela se abre todinha para mim, e eu não consigo digerir o fato de alguém se entregar dessa maneira pra mim, detesto ter que segurar qualquer coisa por mais de dez segundos. Os dias vão e vão e vão - domingos, festas, trabalho feito um animal pra manter a pose de homem comprometido com as coisas realmente importantes da vida. Esse calor me mata, me irrito, porque sou tão verdadeiro nas palavras, e tão filho da puta nas ações. Até que gosto do cabelo enroladinho dela, da boca sensual da outra, dos braços fortes daquela loirinha que conheci não sei aonde, mas tenho tanta preguiça de gostar de qualquer outra coisa. De confiar e passar por todo esse processo montanha-russa. Então viajo com minha mãe, carrego toda a maconha que posso, meus DVDs e um dos livros que alguém me indicou. Prefiro ficar bem longe do mundão, e esse desejo não sai de mim, de viajar até mil novecentos e antigamente, até a época em que a gente nem sabe como eram as coisas nessa época. Faço uma fogueira e tomo uma cerveja com minha coroa, estamos ouvindo aquelas musicas que são só guitarra e uma bateria sem pratos, me sinto quase um velho em uma cadeira de balanço. É claro que tento esconder meu descontentamento com o mundo, mas é madrugada e eu sou tão meninão, vou dormir com minha mãe, ela me abraça e faz um carinho gostoso no meu cabelo, e é a primeira vez desde você que eu me sinto completamente seguro perto de alguém. Peço baixinho que ela me deixe voltar para o calor do útero dela, e escuto aquela risadinha pura de quem já viveu muito, de quem sabe das coisas. Tenho plena convicção da minha necessidade de ser amado, tanto quanto sinto fome e sede. Vou correr, quero achar o lugar onde a gente se perdeu, quem sabe você deixou um rastro por lá, tento me manter otimista, não custa nada ter um pouco de fé de vez em quando. Paro pra ouvir as coisas dentro de mim, e é tão drasticamente belo que você com todas suas paranóias e utopias fantasiosas demais, consiga me expor dessa maneira, como se desmontasse meu corpo, nervo por nervo, até não restar nada que eu consiga ouvir além de você. Me apavora essas três palavrinhas, prefiro dizer “vá a merda” é mais fácil, seguro e não vai dar trabalho algum depois. Me arrependo, porque se você for realmente a merda, quem vai ficar para iluminar os lugares? Sei que hoje você me vê como um maluco qualquer que não tem paladar para o amor, e você está certa, detesto tanto que você esteja certa sobre tantas outras coisas, detesto que você seja tão de verdade que me faça acreditar que todo o resto seja de mentira. Até me assusta, que você seja tão errada, diferente dessas outras garotas com quem eu transo, que parecem terem sido criadas por um computador, se encaixam perfeitamente nesse mundo preto e branco, estereotipado, e acho que por isso não encontro rastros seus, você não pertence a esse lugar, não é daqui. Aqui onde estou é gélido, e é tão quente quanto uma compressa que queima a pele. Quero atirar pedras nas coisas, porque odeio esse mundo, que nos moldou tão perfeitamente um para o outro e esqueceu de tirar a porra da insegurança, o tempo, o medo e todas essas milhões de coisas que me fazem estar aqui correndo nessa estrada barrenta, ao invés de estar aí transando e fazendo amor com você ao mesmo tempo, no mesmo lugar, aliás me fala onde fica esse lugar.”

Muita coisa inacabada porque a gente acabou. - Part III

“Oi, sou eu, pela quarta vez… sei que você já deve ter ouvido as outras três mensagens de voz, e provavelmente está decidindo se atende ou não, então se você não atender agora… não atenda, não atenda meus telefonemas nunca. Estou falando sério, não quero ter que estragar teu romancezinho sem graça… Olha me desculpa. O tempo da mensagem vai acabar. Tá ouvindo essa música? Quem diria que tocariam os RAMONES em uma boate. Todo mundo está aqui, estão perguntando sobre você e eu sinceramente não sei o que dizer, falo que você viajou? Sumiu? Arrumou um emprego na Índia? Você deve estar ouvindo isso e rindo, achando que sou um babaca. Está com fones de ouvido? Está do lado dele, não é? Você tá olhando pra ele agora, acertei? Tá pensando sobre como ele é perfeito para você em tudo, ele é o cara ideal, o cara que sua mãe deixaria dormir na cama dela se possível, você tá pensando que ele ontem te trouxe uma caixa daquele chocolate caro que você e eu tentávamos adivinhar o sabor sempre que passávamos de frente aquela loja… Droga! Posso mandar outra mensagem de voz? Meu tempo está acabando, odeio essas operadoras. Continua olhando para ele, olha bem para ele e vê se consegue se ver nele, estranho né? Acabei de falar coisa com coisa, ou coisa sem coisa, nunca entendo esse ditado. Você não se vê nele, certo? Eu sei o quê consegue enxergar, de longe você vê uma mulher olhando para o céu enquanto caminha de mãos dadas com ele no parque, ele segura sua pipoca, você se sente enjoada, sente frio, e ele não sente nada, na verdade ele está comendo sua pipoca agora, não deixa! Sério, não deixa ele comer sua pipoca, você detesta pipoca, mas é sua, e você pagou por ela, você tem direito a cada pipoca que está nesse saquinho… Porra, preciso mesmo desligar. Vou enviar uma segunda mensagem, prometo.“ Arrependo-me de fazer promessas assim que desligo, sei que não consigo, meu celular está morrendo. “Ei garota, você tem um carregador portátil? Não? Obrigado.” Ninguém nesse clube tem um carregador portátil, é claro que não, as pessoas saem de casa com seus celulares bem carregados, e os deixam na mesa, tiram algumas selfies, e bebem, e derramam cerveja no aparelho, e limpam com a blusa lisinha da garota morena de olhos verdes, e riem juntos, e está tudo perfeito, tudo exceto pelo cara que está enchendo aqui do lado, pedindo um carregador portátil, o cara parece estar bem desesperado. O cara vai até um barman, ele é gay – não o cara, o barman, mas o barman só vai arrumar um carregador se o cara der um beijo na boca dele, o cara decide que não está no clima para beijar boca de macho algum. Deixo meu celular na mesa, e agora é a minha vez de derramar cerveja nele. Cerveja, cerveja… EI BARMAN, PRECISAMOS DE ALGO MAIS FORTE AQUI. Que machões viris nós somos, até o barman quer passar a mão, talvez hoje eu leve duas para casa, talvez eu leve três e elas se peguem no banco de trás do meu carro. Cadê meu celular? Droga! Roubaram a porra do meu celular! O cara está desesperado. O cara vai em todos os lugares, o cara vai em todas as mesas, portaria, volta barman, O QUÊ? ELE PASSOU MAL E FOI EMBORA? Ele roubou meu celular! Não ele não roubou. Ali está o Barman, dançando com meu melhor amigo, nossa nunca iria saber que ele é viado. Ok, esse foi um termo escroto. Mas não quero saber de mais nada. Alguém colocou algo na minha bebida, que se dane o meu celular, vou pegar a morena de olhos verdes, e que se dane o cara que já beijou ela antes, não me importo de beija-la, eu beijaria essa morena a noite inteira e o dia seguinte, eu levaria essa morena para casa e passaria uma semana com ela em Fernando de Noronha, depois… Quem é essa morena? Estou em casa, que dia é hoje? Mãe? Minha mãe esta dormindo na poltrona. O pior da ressaca é com toda certeza a dor na cabeça, é como uma marreta que nunca chega a bater de fato no seu crânio, mas você sofre com o medo de que ela acerte. Meu celular está na pia do banheiro, como diabos ele foi parar aqui? Não sei. Está descarregado, e como eu sou um covarde, um covarde de ressaca que lembra o que fez na noite anterior, eu deixo ele ali, torço para que ele caia na pia com água, assim eu vou ter a desculpa de falar que não liguei porque a PORRA DO CELULAR CAIU NA PIA COM ÁGUA, DÁ PRA ACREDITAR? Como sou um covarde, eu decido que ela nem ouviu minhas mensagens de voz, ela estava transando, ouvindo Bob Marley, fumando aquele baseado, por que ela ouviria tuas mensagens? Nossa, ela não está transando ouvindo Bob Marley, sei disso porque ela odeia essas músicas, sei disso porque ela odeia cigarros, então, vou mudar o cantor e tudo fica no lugar, não é? Já tenho uma desculpa pronta. Banho, lavar o rosto, banho outra vez, vomitei na roupa limpa, isso já é o terceiro banho? Trabalho – Não mãe, eu não quero café, vou comprar no caminho! Carros, e como é difícil conseguir um táxi em plena segunda feira, é tão difícil que chego a cogitar andar 5km. Meu terno perfeito, junto com a gravata perfeita, nossa até pareço o cara que ela estava dormindo ontem. Estou atrasado sim chefe, desculpa, é que ontem embebedei meu coração. Homens dizem isso? Foda-se o que os homens dizem, preciso provar que sou homem agora? A secretária e umas duas funcionarias novatas estão falando da fulana que se assumiu lésbica, o cara da copiadora chega fica com o pinto duro, homem adora uma lésbica, homem adora uma boa lésbica que adore uma boa mulher. Acho isso escroto, as lésbicas não querem um pau no meio da relação delas, então não acha que elas precisam do seu pau intrometido, elas não precisam. Minha cabeça está confusa, são os analgésicos. Volto andando, fui liberado mais cedo por estar “indisposto” estava vomitando tudo mesmo, pode falar para o chefe que eu sou um puto de um irresponsável. Não sou alcoólatra não. As ruas tem mais buracos que a lua, vou pela calçada, andando pela beirada, tentando me equilibrar, estou ouvindo THE WEEKEND, esse cara só canta sobre sexo não é? Sexo e amor, mas as garotinhas só escutam a parte do sexo, por incrível que pareça eu estou ouvindo a parte do amor. Geralmente ando tudo isso de volta para casa em 1h, mas agora está tão difícil andar, parece que ainda não sei andar, que sou uma criança dando os primeiros passos. Então dou de cara com ela, olha para o lado idiota, não consigo, lá está ela segurando balões, sozinha, segurando balões coloridos, ela está do outro lado da rua, óculos escuros, embora o sol já esteja se pondo, shorts curtos e uma camiseta rasgada de uma banda, uma camiseta dos RAMONES. Me encho de esperança, porque apesar de brabo as vezes, apesar de ser tão idiota, só ás vezes, eu me sinto leve, e não sinto mais ressaca alguma, quero agarra-lá de surpresa, quero segurar aqueles balões para ela, e quero engolir tudo que a impede de ser ela mesma. Ela vai embora, entregou os balões para uma criança que estava perto dela, não tinha colocado a criança na equação. A música parou, a garota foi embora, o celular pifou, e meus pés já não aguentam mais andar, na verdade o celular está pifado em casa. E agora? Apareço naquele apartamento pequenininho que eu a ajudei a escolher, e bato na porta feito um doido, dizendo que estou pronto, levando aqueles chocolates? Sou tão o outro cara! Eu levaria uma cerveja, mas já tenho cerveja demais no meu organismo. Péssimo plano, vou ligar. MÃE, estou ligando de um telefone público, carrega o meu celular. Não sabia se era permitido, ligar assim, depois de dois dias, mas em algum livro de amor isso é permitido, em algum livro isso é totalmente natural, o cara só teve um problema com o telefone, não é como se ele não amasse a garota, ele ama a garota de uma forma, que forma, cara? Como você ama essa garota? Ele não sabe, e ele está se olhando no espelho agora, segurando um telefone semi carregado. Ele está pensando se vale a pena voltar, ele está pensando se ela sente a falta dele como ele sente a dela, ele está pensando se ela estava pensando nele naquela hora com os balões, ele se acha ridículo, e ele vai desistir de ligar se continuar pensando. Viro para os bonecos do Toy Story que comprei depois que terminei a faculdade, meu quarto tem tudo que um quarto de homem não tem, de novo esse papo de homem? Aperto o botão ligar. Não atende, não atende, não atende, atenda logo e acabe com minha insegurança e infantilidade. Olho para as pílulas que usei esse final de semana, e isso é só uma das trezentas coisas que terei que mudar por ela. Decido que não vou mudar porra nenhuma. Caixa de mensagem… Deixe o seu recado… “Oi… sou eu… pela quinta vez… Meu celular caiu na pia, acredita? Tive que comprar um novo celular. Sobre o que eu estava falando mesmo? Vou cortar esse papo, dois dias e eu perdi o jeito de falar. O que vou dizer agora é … completamente baseado na minha crença de que você acredita que eu seja um bom moço, quem diabos usa essa palavra? MOÇO? Entende? É tudo baseado em acreditar um no outro, eu sei que você quer desesperadamente achar algo bom em alguém, você quer achar um bom moço, um bom moço que não seja eu, sou desajeitado, desastrado, tropeço nas palavras, não sou nada sarado, não sou quase nada nessa vida, e são incontáveis todas as coisas que eu não sou, mas eu sou algo, eu não sei o que é, só sei que eu sou algo perto de você. E não, eu não estou bêbado, por favor não me ache um maluco. Mas eu realmente quero poder segurar alguns balões para você. Aliás…“ Droga de operadora!”

Muita Coisa Inacabada Porque a Gente Acabou - Part IV

“Hoje voltando pra casa, passou um cara do meu lado que tinha o seu cheiro. Tá que eu nunca fui fã desse seu perfume barato e adocicado, até te dei um importado de presente de aniversário, só que você insiste em passar essa colônia nojenta para me irritar. E irritava. Como irritava. Hoje, pela primeira vez na vida, eu gostei de ter sentido esse teu cheiro. Ao invés de ter corrido atrás do cara, eu corri foi do cara. Vai que ele era mais um prepotente que queria esbarrar na minha vida e deixar esse fedor virar “two one two”. Quase fui atropelada. Filho da puta! Procuro um lugar urgente pra estacionar essa minha vontade de ser de alguém. Cafeterias e livrarias não, esses lugares estão sempre cheios de pessoas vazias. Vazias de amor. E eu não quero um amor, eu quero me livrar dele. BARES! Há sempre uma boa bebida, uma boa música e uma boa pessoa para nos escutar. Cerveja não moço, hoje eu quero uma bebida mais quente pra aquecer o que há de melhor aqui dentro. Um, dois, no máximo três caras me olhando, o do canto até que não é feio. Olho pro celular, não toca, vejo a hora, não toca, olho pra hora de novo porque na primeira vez eu nem tinha prestado atenção no que eu estava olhando. São 20h. Finjo que estou esperando alguém pros babacas ao meu redor perderem o interesse. Ninguém chega. O cara do canto que até que não é feio se aproxima com aquele papo mole de “E ai?” E ai que eu não tô aqui, não tô afim, dou um gole na minha bebida e a vida começa a se tornar menos agitada e mais simples. “Eu nunca te vi por aqui, é nova?” Papo chato, cara chato, bar chato. Será que se eu deixar o dinheiro da bebida e sair correndo, eles vão me achar menos humana e muito insana? Não corri como planejado, mas deixei a grana e sai como se tivesse me libertado de algo que eu não sabia exatamente o que era. Andar me faz bem, mas andar sozinha me parecia solitário demais. Contei todos os gatos que passaram por mim na rua. Foram 12, juro. E ai me lembrei o quanto você odiava essa minha mania de contar a quantidade de animais abandonados. Quis chorar. Não pelos gatos, quero dizer, por eles também. Ai meu Deus, tô chorando. Peguei o celular e disquei seu número. Chamou, chamou, chamou e você atendeu com uma voz de cansado de quem tinha feito sexo o dia inteiro com a primeira puta que esbarrou por ai. Desliguei. Me odiei por quase uma eternidade, e te amei por umas 5 vidas. Cadê a chave do meu carro? Santo Deus, quando foi que minha casa esteve tão bagunçada? É pra combinar com as coisas aqui dentro. Achei! Prometo voltar logo, não morre de saudade. Três copos e tá eu aqui me despedindo do meu cachorro. Dirijo por ai, sem rumo, sem direção, sentindo a brisa do vento bater na minha cara com gostinho de liberdade. Mas se tô livre e tô feliz, por que quando eu respiro sinto que falta alguma parte de mim? Até sendo inteira eu sou metade. Ligo o rádio. Tá tocando Oasis. Começo a cantar em voz alta como se você fosse ouvir do outro lado do mundo “BECAUSE MAYBEEEEEEEEEE, YOU’RE GONNA BE THE ONE THAT SAVES MEEEEEEEEEEEE, AND AFTER AAAAALLLL, YOU’RE MY WONDERWAAAAAAAAALLL”. O tiozinho do carro ao lado acha graça de tudo isso e dá aquela buzinada pra chamar minha atenção.  Mando o tiozinho do carro ao lado se foder. Ih, uma blitz. Eu bebi, eu bebi sim, não me prenda seu guarda, se eu te explicar a minha história até o senhor choraria. Criei todo aquele diálogo de uma mulher pobre inocente que bebeu porque teve o coração partido, pro guarda nem notar a minha presença e pedir pra eu sumir dali. Ei, eu disse pra você que eu bebi? Foram 3 copos. 3 não, foram 4. Isso, 4 copos de uma bebida que eu nem me lembro qual era, ta vendo como eu tô mal? Até esqueci o que eu bebi. Não vai embora não seu guarda, eu passei o dia todo querendo ser de alguém. A gente pula essa parte da conversa e vai direto pra cama. Não, essa conversa não aconteceu. Dirigi por mais uns 10 km mais ou menos e parei, no meio do nada pra entender porque diabos eu estava indo pra lugar nenhum. Mas ir pra lugar nenhum não é ir pra algum lugar? Já nem sei mais o que eu tô pensando, o que eu tô fazendo, e a porra do meu celular nem pega aqui. Vou voltar pra casa. Merda. A gasolina. A gasolina acabou. Por que diabos deixei a gasolina chegar ao fim? Eu tô perdida. Apavorada. Insetos, bichos, escuridão, frio, carros… Cadê os carros? Eu vou morrer. Algum serial killer vai aparecer aqui, com uma faca na mão querendo me estuprar tipo esses filmes de terror hollywoodianos. Tô sentindo. Ouviu isso? Ah, é a árvore se mexendo. Tô paranoica e a culpa é sua, seu filho da puta, maldito, cretino de merda. A culpa é toda sua. Coloca ideia na minha cabeça de que andar dirigindo por ai faz bem, e faz, e não faz, e não sei a porcaria que faz. EU NÃO TÔ BEM! Tô chorando de novo, e dessa vez é de desespero, e de ódio, e de saudade, e por você. CHEGA! Me encolhi dentro do carro como quem quer um abraço de abrigo, e fiquei lá, em posição fetal. E me senti tão culpada, tão estúpida e tão menos mulher por ter fugido mais uma vez sem saber pra onde. Porque eu queria ir de casa em casa procurando alguém mais adulto, mais responsável e mais homem que você, só pra entender que mais isso e mais aquilo continuaria me deixando presa pelas metades. Porque é desesperador demais chegar em casa e encontrar apenas meu cachorro na poltrona a minha espera sem ter que ouvir os gritos do seu futebol, e nem ver as cervejas espalhadas por cada canto da casa…  CHE-GA! Olho para meu celular, 1 pauzinho de rede, 10 ligações, 5 mensagens de voz, 20 mensagens de texto. Obrigada meu Deus! Envio minha localização para JP com um pedido desesperador de socorro. 10 minutos. Foram exatamente 10 eternos minutos de espera, mais uns 15 minutos pra contar a história toda, e uma vida pra poder esquecer tudo isso. Entrei no carro rumo a minha casa, era hora de ir embora pra sempre.”

Muita coisa inacabada porque a gente acabou - Part V

“7 meses depois. Chinelos laranja, cabelo extremamente molhado, bermuda e uma camisa preta rasgada, é assim que você me vê quando abre a porta. São três da manhã e seus olhos nem estão abertos direito. Calcinha branca de bolinhas amarelas! É assim que eu te vejo. Então a segunda coisa que você vê é o sangue escorrendo pelo meu pescoço, e o ferimento enorme do lado da minha cabeça. “QUE PORRA É ESSA?” O cara que você tá pegando procura uma toalha para cobrir seus seios. Eu e você? Imóveis. Eu? Segurando a respiração. Você? Derramando uma torrente de palavrões mentalmente. “QUEM É ESSE CARA? FALA COMIGO… MAS QUE DROGA!” E a porta se fecha na minha cara. A gritaria vem em seguida. Escorrego até o chão e fico ali, sentado ao lado da porta do seu apartamento, penso que é a coisa mais infantil que já fiz. O barulho acaba antes que os vizinhos comecem a acender as luzes do corredor, a porta se abre e o cara sai com os sapatos nas mãos, o seu cara. Me encho de uma alegria, e não tenho medo de soar egoísta: ele não vai mais pegar nos seja peitos, pelo menos não hoje. “Você pode entrar agora” sua voz ecoa pelo corredor vazio. Entro meio sem jeito, tonto com todo o stress da noite, seu cachorro imediatamente pula nos meus pés e começa a balançar o rabo desesperadamente. “E aí garotão.” O telefone toca, é o síndico, reclamações do barulho, e alguém denunciou um invasor no prédio. Você parece calma, como se estivesse falando com um bebê, fala, fala e fala e depois desliga. “Vamos fazer um curativo nisso aí.” E me olha desconfiada, quase com saudade do meu rosto, eu também. Abre e fecha a boca algumas vezes. Percebo que você está conversando sozinha, se perguntando se deve ou não falar algo. Pode ficar aí com sua conversa interior, enquanto eu te dispo com a minha mente, e te beijo por algumas horas, até o sono acabar com tudo. Deixa esse curativo pra lá e me dá colo, me leva pra sua cama, quero sentir de perto o cheiro de canela da sua pele, desamarrar esse seu cabelo e tirar o sangue do meu corpo no seu banheiro. Percebo que você está falando, talvez já esteja falando por algum tempo. “Olha aqui… Você pode ficar do outro lado da cidade, sem me mandar um SMS sequer, pode esquecer o aniversário do nosso afilhado, não dá as caras no enterro do meu pai… Você pode fazer o que porra quiser com essa sua vidinha miserável. Mas você não pode, nunca, nunca, aparecer no meu apartamento as três da manhã. Entendeu?” Agora estamos sentados lado a lado, você com as mãos na cabeça, claramente decepcionada demais para fazer qualquer outra coisa. Quero muito falar algo, quero muito falar que você fica irresistível com essa toalha cobrindo o corpo seminu, embora saiba que nada que eu diga vai arrumar toda essa catástrofe que criamos. Sei que foi a sua bondade que me colocou para dentro e não o seu amor. Sei também que algumas coisas não podem ser consertadas, e apesar da tragédia da situação, não consigo me sentir só, mesmo com toda a melancolia, as sirenes lá fora, a música clássica que seu vizinho autista está ouvindo, o seu cachorro sentado entre nós no sofá, nada disso me faz sentir aquele desespero que sinto o tempo todo quando estou perto de alguém. Você se levanta, me dá uma outra cerveja, pergunta se me sinto melhor, me manda tirar os chinelos, e fala que tem uma blusa limpa ali no quarto do seu irmão. Coloco a camisa limpa por cima da suja, porque é isso que tenho feito com a minha vida nos últimos meses. A gente se olha um pouco demais, agora brigando em silêncio. Você irritada. Eu estou sentindo falta de você irritada. “Eu sei, eu sei, pisei na bola” “Você não pisou na bola, pisou o estádio inteiro.” Mas você não me engana, não me diga que não sente um pouco de paz agora, nem que seja por dois segundos, não é nada bonito mentir, garota você tem os mesmos olhos que eu, os olhos de quem procura por algo que não sabe o que é, em lugar que não sabe onde fica. “Eu também, também estou procurando esse lugar tranquilo que você tanto fala.” É por isso que invadi sua casa, eu também quero dar o fora daqui, aqui as pessoas são rápidas demais, eu também tantas coisas… “Está ficando tarde.”Fala logo que não quer ser levada pra cama sem um eu te amo concreto, fala que prefere me mandar embora que sentir uma pontadinha de esperança, que talvez possa ou não, acabar em merda. Percebe a incerteza da coisa? Fala pra mim que odeia sair da zona de conforto, dessa sua vida programada, cheia de coisas que você precisa fazer agora pra fazer algo mais tarde, pra ser alguém mais tarde. Enfim, está realmente ficando tarde. Peço por gentileza que me devolva meus chinelos e abra a porta. É surpreendente a facilidade com que você acha as chaves e destrava tudo, e liga para o porteiro dizendo que alguém está descendo. Então é isso, até qualquer outro dia. “Até.” Você não consegue falar as três letrinhas direito. São só três letrinhas. Qual a dificuldade? E me pergunto se você faz isso porque me ama ou porque odeia ser amada por mim. Quando a porta se fecha, você não sabe, mas eu fico ali por mais um tempo, fico ali por muito tempo.”

Muita coisa inacabada porque a gente acabou. Part VI


FLASHBACK.
Terminamos tudo. Peguei minhas coisas e dei o fora. Ela me liga. Eu ignoro. Sinto saudades. Eu ligo. Ela não ignora. Ela é madura. E eu um quase homem. Marcamos de irmos comer um Sushi. Ela diz que tem muitas novidades. Juro que minhas veias engrossam quando a vejo, perco a cor. Ela elogia a cagada que fiz no meu cabelo “ah, ta legal. Você fica ótimo carecão.” Dou aquela risada faceira de quem pensa "garota, quero te levar pra cama.“ Faz um mês que terminamos, e me acho um babaca por não parar de olhar para o decote dela. TUDO BEM! Eu estou excitado. Meu pau tá falando com meu cérebro "vamo ver cara.” Ela não para de sorrir para mim. Vez ou outra a pego me olhando por muito tempo. Eu olho bem dentro daqueles olhinhos pequenos, até ela desviar o olhar. Aquela música que nós dois amamos, começa a tocar. Que sorte, não? Penso em chamá-la para dançar. Desisto. Ela devora o Sushi, eu fico mexendo o Shoyu com o Hashi. Gosto dela, e estou com saudades. Mas não me permito dizer isso, meu orgulho tem vida própria, acho que ele e meu pau estão discutindo nesse exato momento. Abro a boca para dizer como ela esta linda esta noite, com esse decote provocador, e esse batom violeta. Então um cara chega, a pega por trás e começa a beijá-la no pescoço. Meu sangue congela, me sinto a Elsa do Frozen, ok! Péssima comparação. Mas, não consigo “LET IT GO” Vou mandar esse cara tirar as mãos da minha garota. Mas ela fala antes. Diz que esse é o namorado dela. “ah ta. Me chamou aqui pra isso” O cara me olha e olha pro decote dela, com uma cara de pervertido. Sei o que ele tá pensando. Tá pensando em comer minha mulher. “- E ai cara. Ta pensando em comer minha mulher?
- Comporte-se.
- Você deve ser o ex. Tudo de boa cara?
- Vou ao banheiro.”
Acabo de perceber que o restaurante está lotado, que as pessoas estão super bem arrumadas, e que eu sou um ninguém. Ela tá do meu lado agora, me pega pelo braço e começamos a caminha entre a multidão.
- Vamos conversar.
- Por que você tá com ele?
- Por que você tá com todas?
- Vamos para casa. Fazer amor.
- Péssima resposta.
- Vamos pra qualquer lugar, fazer amor.
- Caramba! Você só pensa em sexo.
 - Errado. Só penso em sexo, contigo.
- É pra rir?
- Vou pra casa.
- Ei, quero mesmo que você dê uma chance a ele.
- Eu não tenho que dar porra nenhuma a ele.
- Prometemos que iriamos tentar seguir em frente.
- É, tem razão. Vou comer aquela garçonete.
- Você é infantil.
- E você é cruel.
- Eu não quero que você seja infeliz, não quero que fique me esperando.
- Nem um nem outro. Eu não sou assim.
- Não quero que você sofra.
- Me ligou por caridade? Trouxe ele aqui pra mostrar como consegue fazer a fila andar?
- Não sou eu quem como uma mulher toda noite.
- Bem que você podia né. Digo, comer uma mulher.
- Larga de ser escroto, garoto.
- Ele te faz feliz?
- Sim e não. Mas, nunca vou descobrir se você continuar perto de mim.
- Quer a minha benção não é?
- Sim.
- Seja feliz com ele.
Não faço aquela cena dramática de um roteiro óbvio. Apenas dou o fora, outra vez. Quando chego em casa, xingo até perder a voz. Peço aos céus que o nosso cupido saiba o quê está fazendo. Olho pro meu pau com a pior cara do mundo. “É, não foi dessa vez.

Muita Coisa Inacabada Porque a Gente Acabou - Part VII.

“Ontem a gente transou, lembra? Passei a vida toda cruzando esquinas para me deparar com algum tipo de Volvo e sempre tive o azar de bater em Kombi’s. Até que um modelo tradicional com aquele simbolozinho da Volkswagen na frente de todo o tamanho não é nada mal, mas quando o assunto é você, tudo vai de mal a pior. Janeiro, verão, festa da Marcinha (amiga em comum daquele que não deve ser nomeado, e nem é do Voldemort que estou falando, antes fosse), vou ou não vou? Não vou porque você vai estar lá. Vou porque você vai estar lá. Jeans ou vestido? Vestido! De preferência o mais curto, o mais lindo, o mais abusado. Pego o celular com a intenção de convidar JP para a festa. Chamando. Lembro de você. Ouço um “alô” do outro lado da linha. Desligo. Respiro fundo. Droga!  Já são 22h e ainda não decidi se vou ou se fico. Vou! Cabelo solto ou preso? Prendo porque você detesta meu rabo de cavalo. Solto porque você se amarra nos meus quase cachos entre as pontas. Solto! Muita ou pouca maquiagem? Muita porque você tem alergia a minha base. Pouca porque você é fã das minhas sardas. E eu odeio as minhas sardas! MUITA! Em meio à correria, me deparo com meu cachorro no sofá de cabeça pra baixo a espera de um carinho na barriga. Massageio sua barriga por míseros 5 minutos e decido o quanto eu queria ser meu cachorro pra poder receber alguns carinhos. Prometo que me contento com 5 minutinhos. Dou tchau pro meu cachorro, pras flores que ganhei semana passada que nem estão vivas mais, pro vizinho do 508, pro porteiro… Deus do céu, quando foi que me tornei tão simpática? Tá tocando Coldplay no carro. Não sei o nome da música, mas sei o refrão. Canto bem alto. Ai eu lembro o quanto você amava essa música. Troco de rádio. Passo todas as rádios possíveis pra encontrar uma música que não me lembre você. Desligo o rádio. Te xingo mentalmente com todos os palavrões existentes possíveis, e fico um pouquinho mais feliz. Festa chata, música chata, pessoas chatas, por que diabos eu vim? Marcinha fica feliz com minha presença, agradece o presente e pede para que eu fique a vontade. Não dá pra ficar a vontade em uma festa em que eu não conheço NINGUÉM! Tá que o Pedro veio, a Bia, o PC, o Rafa, você…? Você veio! Nossos olhares não se cruzam, eles se amarram e dão um nó. Pego uma bebida para me distrair, não muito satisfeito você vem atrás com aquele papo mole.
- Tá fugindo de mim?
- Você tá bêbado?
- Não respondeu minha pergunta.
- Por que estaria fugindo de você?
- Talvez porque eu ainda mexo com alguma parte ai de dentro.
- Você tá bêbado.
- EU NÃO TÔ BÊBADO!
- Você tá falando embolado.
- Talvez eu tenha bebido um pouquinho e tals.
- Você falou que tinha parado de beber.
- Você falou que eu era o amor da sua vida.
Silêncio.
- Cadê ele?
- Ele quem?
- O cara que tem comido a minha mulher.
- Para de falar assim.
- Assim como?
- Como se eu fosse a refeição do dia.
- Se você fosse a refeição do dia, saiba que eu te comeria sempre haha.
- Chega, vamos embora.
- Vamos. Vamos pra onde?
- Pra onde você não deveria ter saído; sua casa.
- Eu sempre disse que minha cama era melhor que a sua.
- Nós não vamos transar.
- Nem fazer amor?
- Nem fazer amor.
- Uma chupadinha de leve cairia bem.
- Nem transar, nem fazer amor, e muito menos uma chupadinha de leve.
- Quando foi que você se tornou tão careta?
- Quando foi que você se tornou tão idiota?
- Garotas gostam de idiotas.
- Homens gostam de caretas.
Silêncio.
- Precisa de ajuda pra entrar?
- Acho que minha mãe mudou a fechadura.
- Ah claro, sem dúvidas. Me dá isso aqui. Pronto.
- Não quer entrar?
- Não quero muitas coisas.
- Nem transar? Tô falando de sexo casual. Prometo!
- BOA NOITE!
Foi só a chance deu virar pra ir embora que você vomitou a varanda toda, a sua camiseta toda, o tapete favorito da sua mãe todo. Tive que dar uma de babá e te dar um banho gelado. Não foi lá sacrifício, porque te ver bêbado e semi nu me deixou mais excitada que todas as noites de sexo que já passamos juntos. Fomos pra cama. Você desmaiado de um lado, e eu vendo você dormir do outro. Não, a gente não transou, nem fizemos sexo e muito menos amor, mas ouvir você chamar meu nome em meio a um sonho valeu mais do que qualquer orgasmo.”

— Muita coisa inacabada porque a gente acabou. VIII

- Onde estão minhas roupas?
- Coloquei pra lavar. 
- Vou ficar pelado a manhã inteira?
- Você não tá pelado, tá com o moletom do meu irmão. 
- Estou sem cueca. 
- Eu sei.
- Eu bebi muito?
- Muito.
- A gente transou?
- Não. 
- Que bom. Porque eu iria querer lembrar da nossa primeira transa depois da nossa última. 
- Toma, um analgésico pra ajudar com a ressaca.
- Você tá linda com esse cabelo todo no lugar. 
- Não engole esse comprimido sem água, faz mal. 
- Adoro esse vestido, dá pra ver seus peitos.
- Não enche.
- Você tem uma escova de dentes?
- Acho que a sua ainda está ali na gaveta. 
- Você tem minha escova, mas não tem nenhuma cueca? Decepcionante.
- Queimei todas.
- Sua TPM sempre foi anormal.
- Não exagera.
- Admita.
- O quê?
- Que você queimou minhas cuecas quando estava na TPM.
- Queimei mesmo, e também precisava de espaço na gaveta.
- Tava aqui lembrando… aposto que aquela loira de ontem adoraria ter uma cueca minha.
- Por que sua roupa tá demorando tanto a secar?
- Você tem chinelos? Não consigo entrar no banheiro.
- Eu lavei o banheiro.
- Nem um par de havaianas?
- Não tenho. Vai ter que entrar assim.
- Escovo os dentes na pia da cozinha então.
- Quer algo pra comer?
- Você.
- Não sabe ser menos escroto não?
- Não. 
- Tem granola.
- Só como com iogurte.
- Você é muito exigente.
- Não sei não ser.
- Seu cabelo ainda tá sujo de cerveja.
- Por que me trouxe aqui?
- Você tava criando confusão. 
- Aposto que estava.
- Não tinha pra onde levar você. O porteiro me ajudou a te carregar.
- Vou acenar pra ele quando passar.
- Você é tão arrogante.
- E você é gostosa.
- Cala a boca! Toma aqui sua granola.
- Disse que só como com iogurte.
- Você não é tão exigente assim com as suas mulheres.
- Elas eu não preciso digerir.
- Não sei como você ainda consegue pegar mulher desse jeito.
- Com um pau como o meu, é difícil não conseguir.
- Não me faz rir.
- Vai negar que não tenho um belo pau?
- É um pau comum.
- Vou te mostrar que não é. 
- Garoto levante essas calças.
- Viu? É um pau legal. É um pau só seu.
- Meu e de todas.
- Hoje ele é só seu.
- Não consigo ter uma conversa decente com você. 
- Pra onde você tá indo?
- Trabalhar.
- Não vai. 
- Preciso ir.
- Eu não sei ficar sozinho aqui com ele.
- Ah é, tinha esquecido. Quando as roupas secarem, você vai comprar a ração dele.
- Você sente minha falta?
- Não.
- Tô falando com o cachorro.
- Ele também não.
- Mentirosos. Vocês dois.
- Fica aí, que vou trocar de roupa.
- Olha tem algo estranho com…
- Mandei ficar lá.
- Você deixou a porta aberta de propósito.
- Pelo amor de Deus, para de olhar pra minha bunda.
- Suas celulites são divinas.
- Gosto dos seus olhos.
- Um elogio, estamos progredindo.
- Não tenho tempo pra papear contigo.
- Olha aqui.
- Me solta.
- Não consigo.
- Você é pervertido.
- Ele sobe por conta própria.
- Guri, eu realmente preciso trabalhar.
- Eu também sinto saudades.
- Quem é que tá mentindo agora, ein?
- Não consigo matar essas coisas.
- Que coisas?
- Essas que fervilham no meu estômago toda vez que estamos perto um do outro.
- Romantismo não é o seu forte.
- Não vou insistir.
- Você nem tentou.
- Tô tentando agora.
- É tarde.
- Olha pra mim.
- O que você quer, fala logo que estou super atrasada.
- Eu não sei. 
- Tô indo. Não esquece a ração.
- Já pedi pra ficar, o que mais quer que eu faça?
- Fique de joelhos.
- Não tem graça.
- Não sou boa com gracinhas. Isso é mais o seu forte.
- Devíamos tentar outra vez.
- Não, e eu tô com o JP agora. E estou muito feliz com ele. Estava ótima até te encontrar naquela maldita festa. 
Então não vem tentar ser engraçadinho bancando o romântico canalha, conheço os teus truques.
- Tá tentando convencer a mim ou a si mesma? 
- Na boa, você é irritante.
- Você sabe como broxar um cara.
- Só você. 
- Acho que minhas roupas estão secas.
- Ótimo.
- Legal.
- Tchau.
- Bom trabalho pra você.

- Acho que ela não vai voltar cara… Eu sei, é a casa dela. Estou conversando com um cachorro, aposto que isso não é nada estranho. Tudo bem, compro ou não sua ração? Nem sei qual sabor você come. 
Cachorro metido.

- Acorda.
- Você voltou.
- Eu moro aqui.
- Nossa, o que aconteceu com suas roupas?
- O cachorro fez xixi no moletom. Falei que era pra ter cuecas minhas aqui.
- Você não vai desistir não é?
- Não.
- Tudo bem.
- Tudo bem o que?
- Podemos recomeçar, mas sem sexo.
- Só amigos.
- Só amigos.
- Então começa tirando essa blusa transparente, estou excitado.
- Da pra ver.

domingo, 20 de março de 2016

— Escriturias

Estou aqui, disposto a colocar um pouco do que eu sinto. Sei que usar as palavras não é o meu forte e nem tudo que eu sei usar para expressar tamanha felicidade é o suficiente. Logo de cara posso dizer que existe um eu antes de ti e um eu depois de ti. Confesso que o agora me encanta, me surpreende, me anima, me deixa em paz e me deixa totalmente segura das coisas que eu quero. Antes eu era uma pessoa fraca na qual qualquer ventinho me derrubava sabe? Posso fazer uma metáfora, você é a tempestade, a ventania na qual eu amo estar no meio, no qual eu não sinto medo de estar tão exposto assim. Gosto de sentir seus ventos, gosto de sentir a adrenalina de estar contigo. São coisas tão clichês que é inacreditável, quando penso que já sei alguma coisa sobre você, ploft, você me surpreende e me encanta mais. Sabe? Com você as coisas não caem na rotina, todo dia é um novo, é de uma maneira diferente, é um sorriso diferente, é um estar apaixonado por cada detalhezinho, tudo acrescenta, tudo aumenta, tudo se transborda, mas nunca se esvazia. Romantismo demais eu sei, chega a ser algo meloso e eu sinto muito. As vezes me indago porque eu? Porque entre tantos e tantas por aí, logo eu? Uma pessoa pequena e mimada. Eu não tenho muita coisa a lhe oferecer, mas tenha certeza, que tudo o que eu tenho é teu. A minha atenção, os meus sorrisos, minhas atitudes, meus carinhos, minhas risadas (que é escrota demais por sinal) e o principal, o meu amor. Logo eu que não queria saber de amar e nem me apaixonar estou aqui, amando e puta que pariu, a paixão me pegou e me levou junto. Aqui ou ali, lá ou cá, agora ou depois, amanhã ou dias depois, vai ser você, sempre e para sempre. Sei que o para sempre não existe e ele é constituído pelos agora. Então você é o meu agora, o meu para sempre.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Amor não se pede



Se implorar resolvesse, não me importaria. De joelhos, no milho, em espinhos, agachada, com cofrinho aparecendo. Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer. Do ridículo ao medo: pularia pelada de bungee jump. Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer Estado, qualquer espírito. Mas amor não se pede, imagine só.

Ei, seu tonto, será que você não pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou aqui quase esmagada com sua presença? Não, não dá pra dizer isso.

Ei, seu velho, será que você pode me abraçar como se estivéssemos caindo de uma ponte porque eu estou aqui sem chão com sua presença? Não, você não pode dizer isso.

Ei, monstro do lixo, será que você pode me beijar como um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença? Definitivamente, não, melhor não.

Amor não se pede, é uma pena.

É uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira. É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrói sozinho sonhos. Mas você não pode, não, eu sei que dá vontade, mas não dá pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tô sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de não me amar

e vir logo resolver meu problema?

Mas amor, minha querida, não se pede, dá raiva, eu sei.

Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que você amava tanto. Raiva dele fazer você comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar. Ele roubou sua leveza mas, por alguma razão, você está vazia. Mas não dá, nem de brincadeira, pra você ligar pro cara e dizer: ei, a vida é curta pra sofrer, volta, volta, volta. Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem. É triste ver o Sol e não vê-lo se irritar porque seus olhos são claros demais, são tristes as manhãs que prometem mais um dia sem ele, são tristes as noites que cumprem a promessa. É triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e você não olha de lado, aquele cheiro

que acalma a busca. Aquele cheiro que dá vontade de transar pro resto da vida. É triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz.

Tanto amor querendo escrever uma história, mas só escrevendo este texto amargurado. É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer,

implorar.

É triste lembrar como eu ria com ele.

Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa?

Ele sabe, ele sabe.

 — Tati Bernardi.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Ela não foi uma má namorada





"Eu não sou uma má namorada.
Não precisa falar comigo 24 horas.
Pode jogar.
Pode sair com seus amigos.
Pode curtir a foto dos outros.
Pode falar com quem quiser.
Só não quero que tu fume maconha.

Eu não sou uma má namorada.
Pode ir sozinho, amor. To cansada, vou ficar em casa hoje.

Eu não sou uma má namorada.
4 horas da manhã recebo mensagens falando que você tava me traindo. Não consegui mais dormir.

Esperei a manhã chegar pra poder mandar mensagem pro seu amigo já que você estava sem celular. Você negou.
Disse que nao faria isso comigo nem com a minha família.
Disse que se eu nao confiava em você nao tinha motivo pra estarmos juntos.

Eu não sou uma má namorada.
Acreditei em você.

Eu não sou uma má namorada.
A outra e suas amigas me chamaram de corna no Twitter.
Ainda assim acreditei em você.

Eu não sou uma má namorada.
Vi tua ex te mandando nude.
Para de falar com ela.
Vi você trocando fotos e de papo com uma amigan
Para de falar com ela, você tem namorada.
Vi você de papo com mais outra.

E você me apresentou a insegurança.

Eu não sou uma má namorada.
Descobri a verdade.
Você me traiu.
Você baixou a cabeça e disse que não sabia o que dizer.
Eu disse: "deixa pra lá, faz tempo. "
Mas *, precisava ser no dia do meu aniversário?

Eu não sou uma má namorada.
Vou no shopping com a minha mãe.
Vou na minha avó.
O cara da internet ta aqui em casa.
Vou comer.
Vou tomar banho.
Vou dormir.
Mas ia jogar.
(?)
E pra que mentir?
Me senti mal.
Deixa o jogo um pouco pra lá.

Eu não sou uma má namorada.
Vou dormir, tenho que ir pra aula amanhã cedo.
Mas eu to de férias, amor, fica mais um pouco.
Eu tenho que ir, amor. Desculpa.
Mas ia jogar.
Tudo bem.
Eu desisto.
Fica com esse jogo.

Eu não sou uma má namorada.
Soube mais sobre aquela traição.
Você transou com ela.
Me revira o estômago só de lembrar você dando parabéns pra gente pelo primeiro mês de namoro, mas ao eu ir dormir, fez o fez.

Eu não sou uma má namorada.
Deixei de confiar em você.

Eu não sou uma má namorada.
Sempre que ia na sua casa, voce ia no banheiro com o celular antes de qualquer coisa. Lembra daquela vez que você pediu pra eu ligar o computador e escondeu o celular? Eu disse que vi e você disse que eu tava louca, exagerada. E que ja tinha falado pra eu parar com essas loucuras. Comecei a chorar.
Por achar que eu deveria esquecer o passado e voltar a acreditar em você. Você foi no banheiro.
Peguei meu celular, entrei no wpp e você tava la, online.
Mandei: como você é babaca.
E você volta, e diz que não queria que eu visse uma conversa sua com a minha melhor amiga, que era sobre mim. E eu chorei mais ainda, por odiar você fazer essa chantagem emocional. Fazer eu me sentir mal comigo mesma por nao acreditar em você quando você mente. Por achar que eu estava maluca.

Eu não sou uma má namorada, você que me tornou.
Para de falar com ela.
Da unfollow.
Exclui.
Me da todas tuas senhas.
Não vai sair com amigo não.
Nao vai dormir na casa dele nao.
Fica em casa.
Vai jogar.

Eu não sou uma má namorada.
Você terminou comigo pra passar o dia jogando.
Mas logo em seguida mudou de ideia.

Eu não sou uma má namorada.
Você terminou comigo porque não sabia o que queria.

Eu não sou uma má namorada.
Você terminou comigo porque queria ter seus amigos de volta.

Eu não sou uma má namorada.
Você terminou comigo porque nao queria mais que fossemos só nós dois no mundo.

Eu não sou uma má namorada.
Você terminou comigo toda semana.
E eu voltei sempre que pediu.

Eu não sou uma má namorada, você que me tornou.

Eu não sou uma má namorada, você que me colocou defeitos.
Você que me apresentou a insegurança.
Acabou com a confiança.
Apresentou a falta dela.
Você que acabou com o namoro bom, livre, e saudável que eu te dei. Você que trouxe o sufoco, as brigas, o desgaste dele.
E o pior.
Colocou tudo em cima de mim, como se eu tivesse danificado a gente, enquanto você que tinha feito isso. Eu nunca deixei a gente apesar dos teus erros, por não ter colocado todos esses motivos acima como os primórdios. Eu preferi nos filtrar.
Deixar os momentos bons pesarem mais, por mais raros que fossem.
Por mais que depois que eu virasse as coisas você esquecesse que eu existia. Decidi seguir a frase que o humano erra.
Decidi te dar todas as chances do mundo de mudar.
Decidi te ensinar com amor.
Preferi acreditar que você ia amadurecer com os erros.
Preferi milhares de coisas.
Até que preferi morrer
E renascer.
E renascendo, sou outra
E sendo outra
Não existe mais nada disso."

-Vania