quinta-feira, 7 de abril de 2016

Ele não é tão rico, nem tão bonito e muito menos o ban-ban-ban do grupo de amigos. Ele não se destaca em nada. Pra falar a verdade, até meio estralho ele é. E por mais incrível que seja, quando ele foi embora, ele não me causou nada.
Ele é simples como qualquer outro e tem manias idiotas como qualquer ser humano. Fala feio, ouve música alta, ama os pais, tem sonhos e saudades, cozinha e às vezes arrisca uma ou duas notas no violão. Ele é simplificado o bastante. Ele foi a parte simples dessa minha vida engatada no caos. E não levem a mal, quando eu falei que ele não causou, não menti. A ida dele não moveu nenhum músculo meu. Não mudou nada. Nenhum sorriso. Nenhum choro. Nenhuma perspectiva de vida. Ele me causou um nada. Algo bem pior do que ter, perder, entrar na fossa e superar. Nem pra isso esse homem serve, não conseguiu nem me dar um clichê de novela mexicana. Eu simplesmente existi. Como se eu tivesse tomado um ou dois entorpecentes. Eu via tudo, sentia tudo, ouvia tudo, mas não conseguia reagir a nada.
Perder ele foi possivelmente o mais próximo que eu cheguei à alguma morte interior. Era como se todos os meus órgãos falhassem e segundos depois voltassem a funcionar pra poder me mostrar que eu vou ter que continuar vivendo, por pior que fosse.
Acordar, tomar café, me arrumar, ir ao trabalho, ao mercado, à padaria. Tarefas simples. Tarefas complicadas demais pra quem tem que lidar com o sorriso alheio e a morte interior. Era como se eu dobrasse a esquina esperando que ele estivesse lá, ou abrisse a caixa de e-mail idealizando alguma lembrança de “ei, fiz aquela receita e lembrei de você”. Mas não tem lembrança. Não tem sentimento. Não tem nada.
É viver como se não tivesse existido. Existir como se pudesse viver. Aguentar como quem carrega 112 toneladas de aço quente nas costas e esperar, suplicando, pra que, por favor, esse nada se transforme em pelo menos alguma dorzinha pra poder passar o tempo.
Eu te amei com todas as palavras que aprendi e talvez por isso nenhuma delas sirva pra esse momento. Eu te perdi com todo o meu vocabulário interno. — Eduarda Leichtweis.

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